Totó Parente - Um lacaio na cultura de São Paulo
Cargo de secretário municipal de cultura, que já foi ocupado por Mário de Andrade, hoje está nas mãos de um destruidor de teatros.
Na minha vida, ao longo destes cinquenta anos, me deparei com alguns “Totós”. Até então todos eles eram quadrúpedes e simpáticos, sendo o que mais me desperta saudades era o meu Totó, um pinscher irritadiço e barulhento que meus pais me presentearam quando eu era criança.
De lá para cá encontrei mais alguns, das mais diferentes raças e tamanhos mas no “formato humano” apenas em 2025. Esse Totó, por outro lado, não faz juz à simpatia do apelido, pois esse é uma das figuras mais infelizes que já se sentaram na cadeira de secretário municipal de cultura da cidade de São Paulo. Já volto para falar dele…
O CARGO DE SECRETÁRIO DE CULTURA
Dos diversos secretariados da prefeitura paulistana poucos tem tanto peso quando o de Cultura, afinal é nesta atribuição pública que grandes brasileiros também podem ser lembrados, sendo que só um deles já vale pelos demais: Mário de Andrade.
Consagrado como um dos grandes nomes da cultura nacional de todos os tempos, Mário de Andrade é de longe o maior nome que já ocupou o cargo de secretário municipal de cultura. Foi na já distante década de 1930, ao ser nomeado chefe do então Departamento de Cultura da Municipalidade Paulistana, embrião da atual secretaria.
Nas mãos deste modernista São Paulo viu florescer bibliotecas públicas, atrações culturais, espetáculos e teatros. Não à toa a mais importante edificação cultural da cidade, nossa biblioteca central, recebeu seu nome em 1960.
E não foi só Mário de Andrade. Saiba que a cidade teve outros bons nomes como Marilena Chauí (Erundina), Renato Ferrari (Jânio Quadros) Andrea Matarazzo (Marta Suplicy), Nabil Bonduki e Juca Ferreira (Haddad), Carlos Augusto Calil (Serra e Kassab), entre outros.
Todos os nomes acima são de pessoas de espectro político que vão da esquerda à direita, passando pelo centro. Figuras que de alguma maneira contribuíram positivamente para o crescimento da identidade cultural paulistana. Contudo de alguns anos para cá, especificamente de João Dória Jr em diante, os ocupantes do cargo são temerosos. Mas nenhum, até agora, atingiu níveis tão desastrosos como o atual, Totó Parente.
O LACAIO
Nomeado secretário em janeiro deste ano pelo prefeito reeleito, Parente é um forasteiro. Mas esse não é o problema, já que a cidade já teve outros forasteiros no cargo, como Juca Ferreira. A diferença é que o atual não conhece nada da nossa cultura e não se esforça em fazê-lo.
Trata-se de um completo ignorante da realidade cultural e histórica desta metrópole gigantesca que é São Paulo, e sua desastrosa atuação ecoa não só pela secretaria dirige, mas pelos departamentos subordinados como o Conpresp e DPH (Departamento do Patrimônio Histórico). Parente tem dificuldade até de se expressar em entrevistas, as quais evita sempre que pode.
Mas não tem dificuldade em cumprir a agenda de lacaio, a qual foi designado por Ricardo Nunes. Como todo bajulador que precisa do cargo nomeado para sobreviver, Totó ainda não trouxe nenhuma contribuição para a cultura da cidade, mas seu ainda curto tempo no cargo acumula ódio pelas artes cênicas como jamais visto por nenhum de seus antecessores.
O DESTRUIDOR DE TEATROS
Quem acompanha o cotidiano de São Paulo já deve ter visto a cruzada de Totó Parente contra o Teatro de Contêiner Mugunzá, localizado na Santa Ifigênia, região central de São Paulo.
Em uma crise criada pela própria prefeitura, pleiteam despejar o pulsante teatro paulistano de seu endereço para construir mais um prédio. Ora, no mesmo bairro há diversos terrenos e lotes que podem servir para isso, mas o objetivo é destruir o teatro, desempregar pessoas que vivem da arte e do projeto social espetacular que também é desenvolvido ali dentro.
O apelo da classe artística e cultura paulistana, bem como de boa parte da população contra essa arbitrariedade ainda não comoveram o prefeito, que sabemos ser um homem reacionário. Mas poderia ter sensibilizado o secretário de cultura, o qual se espera tenha algum nível da sensibilidade exigida pelo cargo. Mas não, sua reação é a exatamente o contrário.
Ele se utiliza da oportunidade de escrever nas páginas da Folha de S.Paulo não para propor uma solução justa, uma cooperação, um tratado de paz entre os dois lados. O faz para atacar o teatro, seus administradores e seus defensores (o qual neste me incluo), para chamá-los de baderneiros, de invasores e tudo mais. Se você tiver estômago, pode ler aqui.
Não é isso que se espera de um secretário de cultura, mas exatamente aquilo que esperamos quando vemos que no cargo está alguém que se conforma em ser apenas submisso e servil ao prefeito.
E não podemos esquecer que ele, em fevereiro deste ano, na época com apenas dois meses no cargo, deu de ombros para a completa demolição do Teatro Vento Forte, localizado dentro do Parque do Povo, zona oeste de São Paulo. Só depois, já com tudo em escombros é que Parente comentou alguma coisa. Vergonhoso.
Me diga você, leitor, por acaso se lembra de algum secretário com tanta raiva pela cultura? Acredito que Totó Parente irá passar para a história de São Paulo como primeiro a destruir dois teatros em menos um ano no cargo.
Cabe a nós paulistanos impedirmos esta mudança e defendermos nossa cultura ante os bajuladores e incompetentes de ocasião, que ficam pouco tempo no cargo mas deixam sequelas que levarão anos para se curar.
Excelente texto! O projeto de desmonte da cultura e do patrimônio paulistano segue a todo vapor, e o povo parece inerte perante esses absurdos (do jeito que eles querem mesmo).