Edifício Martinelli - Uma concessão para poucos usufruírem
Grupo Tokyo, concessionário do edifício há dois anos, ainda não reabriu local para visitação pública, apenas disponibiliza festas, shows e baladas
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Ser paulistano não é fácil. Como se não bastasse os problemas de violência e insegurança o cidadão também sofre com as concessões públicas, uma realidade que se faz presente nos últimos anos em diversos segmentos públicos de São Paulo, como os cemitérios e serviço funerário em geral, parques e até no estádio mais querido da cidade, o Pacaembu. Mas a prefeitura também estendeu as privatizações para um dos principais patrimônios culturais da cidade e, adivinhe, não vem funcionando como deveria.
Em junho de 2023 a Prefeitura de São Paulo, através da SP Urbanismo anunciou com bastante galhardia que estava concedendo a administração de parte do Martinelli para a iniciativa privada, ao Grupo Tokyo (Bar e Restaurante Tokyo SP 110 Ltda), no que compreende a loja 11 e os 25º, 26º, 27º e 28° andares do edifício, para a implantação e exploração de serviço de visitação pública, de equipamentos urbanístico-cultural e gastronômico e atividades acessórias pelo prazo de 15 anos ao custo de R$ 61,3 milhões.
O anúncio foi bem recebido pela opinião pública em geral pelo fato do Edifício Martinelli não só ser uma importante atração cultural da cidade, como o fato de uma renovação nas atividades pelo prédio trazer ventos favoráveis a uma recuperação do centro histórico paulistano, que há anos sofre com insegurança e a debandada de lojistas e clientes. Na ocasião do anúncio dos vencedores do processo os sócios do Grupo Tokyo, Junior Passini e Fabio Floriano, prometeram não só reabrir o espaço para visitação pública, como abrir lojas e um café, além de realizar shows e festas.
No entanto a euforia do paulistano com a novidade logo foi tomada pela frustração. Passado já dois anos desde o início da concessão, o Edifício Martinelli, através de sua concessionária, até o momento não disponibilizou a retomada da visitação pública, nem abriu loja ou café. Apenas os shows e as festas, estes pagos e caros.
A não retomada das visitas veio acompanhada de uma postura arrogante. A empresa simplesmente ignora os comentários nas redes sociais que questionam sobre a reabertura do acesso à população, há casos também de comentários apagados pela equipe das redes sociais do Martinelli, como que se querendo abafar ou fugir do assunto. Por outro lado comentários sobre as baladas e shows são respondidos normalmente.



As alegações dos responsáveis pela retomada das visitações do Edifício Martinelli são várias: obras, conversas com a prefeitura e até com outros agentes privados. No entanto causa estranheza o Grupo Tokyo ter rapidez para habilitar o espaço para receber shows, festas e baladas – estes muito mais complicados – do que receber pessoas apenas visitando o local para fazer turismo e tirar fotos.
Consultada, a assessoria de imprensa ainda em junho respondeu com a seguinte declaração: "... Na última semana, tivemos uma reunião com a Secretaria de Cultura, e as visitas guiadas gratuitas, está com previsão de voltarem ainda neste mês de junho. Embora a concessão permita a cobrança do ingresso para visita guiada, ela será gratuita para população...". Passados cerca de 50 dias dessa nota, nada de novo surgiu, seja a reabertura das atividades ou um reposicionamento à imprensa.
VEREADOR COBRA PROVIDÊNCIAS:
A indignação dos paulistanos com esse absurdo, que inclusive viola o próprio contrato de concessão assinado entre a Prefeitura de São Paulo e o Grupo Tokyo, chegou até à Câmara Municipal. O vereador Nabil Bonduki (PT), um conhecido defensor da pauta cultural da cidade, enviou um ofício ao presidente da SP Urbanismo, Pedro Martins Fernandes, cobrando um posicionamento sobre as falhas no serviço de concessão do Edifício Martinelli. Abaixo uma cópia do ofício:
É esperado que o poder público e seus órgãos reguladores tenham celeridade no acompanhamento de eventuais falhas ou vícios na prestação de serviço oferecido ao cidadão através das concessionárias. O caso do Martinelli pede atenção e eventualmente a anulação ou revisão da concorrência, em prol de melhor atendimento aos paulistanos.
Estou acompanhando de perto e informarei novidades no andamento desse caso.